Etnografia: o exercício do olhar estrangeiro

Etnografia: o exercício do olhar estrangeiro
Etnógrafo Americano Terence Freitas

quarta-feira, 10 de março de 2010

Primeira Aula – Parte 9

POR UMA ETNOGRAFIA VIRTUAL CRÍTICA EM LINGUÍSTICA APLICADA

Como afirma Pennycook (1998, p. 24) "é dever da LA examinar a base ideológica do conhecimento que produzimos." O autor, defendendo uma abordagem crítica para a LA, "que seja mais sensível às preocupações sociais, culturais e políticas do que a maioria dos trabalhos nessa área tem demonstrado", também alerta para o fato de que "os paradigmas predominantes na lA não oferecem o arcabouço teórico para explorar o caráter político da educação de línguas." (1998, p.25).

Acredito que as pesquisas em LA, em ambientes virtuais, realizadas com os princípios da etnografia virtual aqui apresentados, podem colaborar para a visão e a postura crítica que cabe ao linguista aplicado, como humanista.

A definição de linguagem é sempre, implícita ou explicitamente, uma definição de seres humanos no mundo. Essa afirmativa de Pennycook (1998, p.26) citando Williams (1977) nos permite reafirmar a ideia de a pesquisa etnográfica em LA deve transcender as análises de dados (mesmo frases, textos, enunciados, discursos) linguísticos e olhá-los dentro do contexto da cultura em que foram produzidos. O próprio Pennycook (idem, p.32) argumenta, citando trabalhos de Ocshsner (1979) e Watson-Gegeo (1988), que a pesquisa qualitativa tem sido pouco desenvolvida e mal compreendida e, "frequentemente igualada a uma concepção limitada de etnografia", chegando a criar caricaturas ao invés de apontar características.

De fato, a postura crítica de Pennycook tem como pano de fundo a visão positivista do mundo moderno que tudo procura dicotomizar e à exportação de pesquisas realizadas por culturas hegemônicas que adquirem valor de verdade em nossas terras. Nesse mesmo viés, Pennycook (idem, pp.44,45) baseando-se em Simon e Dippo (1986, p. 195) alerta para o fato de que "fazer etnografia significa engajar-se em um processo de produção de conhecimento." Assim, continua ele, com os mesmos autores, afirmando que para que o trabalho etnográfico seja crítico, é necessário que sua problemática busque revelar práticas sociais como formas de ação e de significado produzidas e reguladas e que ela vá além dos limites da pesquisa positivista e tenha sempre em vista um projeto emancipatório.

Denzin (1999, apud WARD, s/d, p. 844) clama por uma etnografia mais política, por uma narrativa etnográfica política, no sentido de que o poder é exercido nas comunidades.

Moita Lopes, em seu livro "Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar" (2006) ao discute sobre a importância de uma LA mestiça, que "ao tentar criar uma inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagem tem um papel central, apresenta um quadro de implicações, para uma LA contemporânea, de sua percepção da vida social atual e dos modos de produzir conhecimento em nossos dias. Para ele, a LA "precisa ter algo a dizer sobre o mundo como se apresente e que o faz com base nas discussões que estão atravessando outros campos das ciências sociais e das humanidades..." (p.96).

Nessa mesma linha, o autor apresenta uma agenda de 4 itens para uma LA contemporânea, à qual, acrescento um quinto item:

  1. A imprescindibilidade de uma LA híbrida ou mestiça;
  2. A LA como uma área que explode a relação entre teoria e prática;
  3. A necessidade de um outro sujeito para a LA: as vozes do Sul;
  4. A LA como área em que ética e poder s os novos pilares;
  5. Uma LA que avance para as questões relacionadas a linguagem e tecnologia, considerando o espaço virtual como lócus de interação e o ciberespaço como cultura e como artefato cultural, como defende Hine.


E, no caso desse ultimo item, o desenvolvimento de uma metodologia de pesquisa adequada ao seu universo de pesquisa, a Netnografia.


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