Etnografia: o exercício do olhar estrangeiro

Etnografia: o exercício do olhar estrangeiro
Etnógrafo Americano Terence Freitas

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sejam bem-vindos ao meu Blog sobre Netnografia em Linguística Aplicada

Olá a todos

Obrigado por estarem aqui. Este blog foi aberto para deixar todo o material do curso prontinho, à diposição de vocês. As aulas do primeiro e do terceiro dia estão separadas por unidades pequenas, para facilitar nosso trabalho e a do segundo dia, estão em slides à direita. Bsta clicar, ampliar e acompanhar as discussões.
Para cada dia há uma porção teórica e uma atividade prática.

Para vocês colocarem seus comentários e atividades no blog, basta enviar email para o endereço:
luiz.gomes39@gmail.com e eu me encarregarei de colocá-los no blog.
Um abraço!

Primeira Aula


1.Breve revisão sobre métodos de pesquisa
2.LA e pesquisa
3.Panorama de pesquisas em ambientes virtuais
4.Netnografia: princípios e objetivos

Aproveitamo-nos, aqui, do livro de Lakatos e Marconi, Fundamentos da Metodologia Científica, publicado em 1991, para fazer uma breve revisão sobre o conceito de Método e tipos de método, e sobre técnicas de pesquisa, desde os instrumentos de coleta de dados, à sua análise e apresentação.
Daremos alguma ênfase no Estudo de Caso, aproveitando as ideias do livro: Pesquisa em educação: Abordagens Qualitativas, de Menga Lüdke e Marli E.D. A. André, de 1986, já em sua 5ª. edição.
Não há ciência sem o emprego de métodos científicos.
Método é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.
Conhecimento mítico (sobrenatural)
Conhecimento religioso
Conhecimento filosófico
Conhecimento científico

Primeira Aula- Parte 2

MÉTODOS DE ABORDAGEM E MÉTODOS DE PROCEDIMENTO

Método indutivo: é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se a verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Caminha, geralmente, para campos mais abrangentes, indo de constatações particulares, a leis e teorias.

3 fases: observações dos fenômenos, descoberta da relação entre eles, generalização da relação.

Ex.; Pedro, José, João,... são mortais

Ora, Pedro, José, João... são homens

Logo, (todos) os homens são mortais.


 

Todos os cães que foram observados tinham um coração

Logo, todos os cães tem coração.

Obs.: se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão o PODE ser verdadeira

Método Dedutivo: partindo das teorias e leis, na maioria das vezes, prediz a ocorrência dos fenômenos particulares.

Ex.: Todo mamífero tem um coração

Ora, todo os cães são mamíferos

Logo, todos os cães tem um coração.

Obs.: se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão DEVE ser verdadeira

Método hipotético-dedutivo: percepção de uma lacuna no conhecimento, acerca do qual formula hipóteses, e pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese.

Karl Popper (1977): "...a ciência começa e termina com problemas."

Expectativas ou conhecimento prévio – problema – conjecturas/hipóteses - refutação

Método dialético: penetra no mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.

Primeira Aula – Parte 3


 

MÉTODOS DE PROCEDIMENTO

Método Histórico: busca raízes, costumes, origens no passado, para entender o presente.

Método Comparativo: faz comparações entre passado e presente, ou apenas de uma época, deduzindo os elementos constantes, abstratos e gerais.

Método Monográfico, criado por Le Play : qualquer caso que se estude profundamente pode ser representativo de muitos outros ou até de todos os semelhantes.

Método Estatístico, planejado por Quetelet: redução dos fenômenos sociológicos, políticos, econômicos e linguísticos, etc. a termos quantitativos.

Método Tipológico, empregado por Max Weber: a comparação entre um modelo ideal e os reais, onde o ideal serve de parâmetro.

Método Funcionalista, utilizado por Malinowski: busca entender as funções de cada parte (da sociedade, por exemplo) para melhor entender o todo. A sociedade é uma estrutura complexa e estuda as funções de cada parte no todo.

Método Estruturalista, desenvolvido por Lévi-Strauss: caminha do concreto para o abstrato por meio de um modelo que represente o objeto de estudo e retorna ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada, em forma de modelo, com a experiência do sujeito social. O tipo ideal não existe na realidade, mas o modelo é uma representação concebível da realidade.


 

Primeira Aula – Parte 4


TÉCNICA DE PESQUISA

É o conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte, e também é a habilidade de usá-los.

COLETA DE DADOS

  • Coleta documental
  • Observação
  • Anotações de campo. Nesse caso, seguem abaixo, algumas orientações sobre como fazer/o que anotar:
  1. Descrição dos sujeitos participantes (aparência física, maneirismos, modos de vestir, falar e agir);
  2. Reconstrução dos diálogos (palavras, gestos, depoimentos; utilização de discurso indireto).
  3. Descrição de locais;
  4. Descrição de eventos especiais: o que ocorreu, quem estava envolvido, etc.
  5. Descrição das atividades gerais e os comportamentos das pessoas observadas e suas sequencias;
  6. O comportamento do observador, o que fez, atitudes, conversas, etc. Suas especulações, sentimentos, decepções, surpresas, etc.
  7. Reflexões analíticas: o que se está aprendendo com o estudo.
  8. Reflexões metodológicas: problemas com o design da pesquisa, mudanças;
  9. Dilemas éticos e conflitos: problemas surgidos das relações com os informantes, responsabilidade com os sujeitos, etc.
  10. Mudanças na perspectiva do observador: nos preconceitos, conjecturas, etc.
  11. Esclarecimentos necessários: para que o leitor compreenda determinados aspectos observados.


Obs.: O pesquisador deve, ainda, fazer uso extensivo de comentários, observações e especulações ao longo da coleta; possíveis explicações, etc.

  • Entrevistas
  • Questionários
  • Formulários
  • Histórias de vida

ELABORAÇÃO DOS DADOS

  • Seleção dos dados
  • Codificação: classificação e categorização; atribuição de código/letra, se necessário
  • Tabulação

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

  • Análise (ou explicação): tenta evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudados e outros fatores


  • Interpretação: atribuir sentido aos dados; construção de tipos, modelos, esquemas; ligação com a teoria estudada.


  • Especificação: esclarecer a validade dos dados e da interpretação


REPRESENTAÇÃO DOS DADOS EM TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS


Para alguns, quadros e tabelas são sinônimos, para outros:

Tabela: é construída com dados obtidos pelo próprio pesquisador

Quadro: é elaborada com dados secundários: livros, revistas,etc. Pode ser transcrição literal.

Aula Um – Parte 5

PESQUISA QUALITATIVA E ETNOGRÁFICA

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. Contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada.

A pesquisa qualitativa etnográfica sofreu adaptações, afastando-se do modelo original. Ela começou a ser incorporada aos estudos sobre Educação na década de 1970.

"Denominar etnográfica uma pesquisa apenas porque utiliza observação participante nem sempre será apropriado, já que a etnografia tem um sentido apropriado: a descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo (SPRADLEY, 1979)

Características da pesquisa qualitativa (BOGDAN & BIKLEN, 1982):

  • Os dados coletados são predominantemente descritivos. Riqueza na descrição de pessoas, situações, acontecimentos; há transcrições de entrevistas e depoimentos.
  • A preocupação com o processo é maior do que com o produto
  • O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador.
  • Busca sempre capturar a perspectiva dos participantes
  • A análise de dados tende a seguir um processo indutivo. Não há preocupação na busca de evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início dos estudos. O foco se ajusta com o desenvolvimento da pesquisa.


 

Já Wolcot (1975), (apud BOGDAN & BIKLEN, 1982, p.14), sobre a pesquisa etnográfica, diz que:

para verificar se um estudo pode ser chamado de etnográfico é verificar se a pessoa que lê esse estudo consegue interpretar aquilo que ocorre no grupo estudado tão apropriadamente como se fosse membro desse grupo.

Na educação, a etnografia deve pensar o ensino e aprendizagem dentro de um contexto cultural amplo. O que ocorre dentro e fora da escola.

Primeira Aula – Parte 6

ESTUDO DE CASO

Enfatizo um pouco o Estudo de Caso, por ter grande potencial na Educação (e na LA) e por suas características etnográficas:

  • Permite estudar algo singular, que tenha um valor em si mesmo.
  • Ele visa à descoberta.
  • Enfatiza a interpretação em contexto
  • Procuram retratar a realidade de forma completa e profunda através da multiplicidade de dimensões de determinada situação-problema.
  • Necessita de variedade de fontes de informação.
  • O leitor pergunta-se não o que o caso representa, mas o que ele pode aplicar ou não daquele caso, em sua situação.
  • Traz, normalmente, pontos de vista conflitantes e diferentes.
  • Utiliza outras linguagens, tais como imagem, áudio, desenhos, fotografias, discussões, mesas-redondas, etc.


 

Na etnografia, segundo Stubbs e Delamont (1976) a natureza dos problemas determina o método.

O investigador passa por 3 etapas: exploração, decisão e descoberta.

Hall (1978, apud LÜDKE E ANDRÉ, 1986, p.17) apresenta as características de um bom etnógrafo:

a pessoa precisa ser capaz de tolerar as ambiguidades, ser capaz de trabalhar sob sua própria responsabilidade, deve inspirar confiança, deve ser pessoalmente comprometida, autodisciplinada, sensível a si mesma e aos outros, madura e consistente e deve ser capaz de guardar informações confidenciais.